Le Scaphandre et le Papillon

Numa sexta-feira dessas que o filme da locadora fica sendo toda a companhia para os dois mórbidos dias que marcam o fim da semana eu me deparei com uma questão enquanto segurava uma capa retirada da prateleira “Drama“: como um filme ganhar tantos prêmios importantes e não gerar sequer uma mínima repercussão mundial?

O filme em questão concorreu ao Oscar de melhor roteiro adaptado, direção, montagem, fotografia e arrebatando em Cannes a melhor direção para Julian Schanabel.

O problema é que o filme de Schnabel (“Antes do Anoitecer”) não faz o tipo das história que contém superficialidades o bastante para agradar o grande público que insiste em sair de suas moradas nas noites de seus dias de folga para desligar seus cérebros. Mas calma lá também! Não vamos começar com esse viés de cri-crítico para falar de um filme tão atípico como esse, fique tranqüilo.

A história retratada no longa é a do editor da revista Elle (sim! trata-se aqui, perfeitamente de uma história real), Jean-Dominique Bauby (o mágico Mathieu Amalric) é retratado, ainda no início do longa de forma débil e imóvel a qual transcende maravilhosamente (graças ao visionário trabalho de roteiro e direção) com um bom humor fresco.

O filme conta em retrocesso a vida do editor até o instante de seu derrame. São retratados seus momentos na França onde vivia à visitar seus filhos do primeiro casamento ou à cuidar de seu velho pai ranzinza (vivido pelo veterano Max Von Sydow).

O derrame deixa Jean em estado de coma por duas semanas até que o editor acorda e se vê paciente de um hospital. Imóvel e incapaz de falar ele é informado, através de um médico, que sofria da sequela síndrome locked in a qual o paciente sente-se preso dentro de si, impossibilitando a comunicação verbal e corporal (daí a alusão brilhante do título ao escafandro; roupagem massiva para aqueles mergulhos profundos.).

Bauby estabelece assim, através de método sugerido, a comunicação através dos olhos na qual as letras era ditas enquanto se esperava a piscada que a confirmada, e assim formavam-se palavras. A solução milagrosa é responsável por driblar sua incapacidade quando passa a “falar” através de seqüências de piscadelas; é assim que dá inicio, assistido por uma paciente (no sentido aqui de paciência) intérprete que o traduze para o papel, sua auto-biografia.
O filme aborda de forma original a visão do paciente com a Locked in. Essa bravura de roteiro e intenção talvez fossem bastante para boa parte daqueles prêmios. A outra parte se justifica no decorrer da obra que segue singela e bela a toda instante ora à mostrar as belas mulheres atiçando a visão do paciente (entre elas Marie-Josée Croze e Emmanuelle Seigner) ora a demonstrar e explicar as parábolas que Jean faz sobre a vida enquanto escreve seu livro numa postura totalmente analítica devido ao seu estado de paralisia total.

A metáfora do título sobre o escafandro é exemplificada em dados momentos nos quais Bauby se enxerga preso dentro da roupagem pesada, e sobre a borboleta quando imagina o seu nascimento para fora do casulo demonstrando a liberdade da prisão do ser.

Mathieu Amalric, ator com um trajeto significativo no cinema francês dá vida de forma esplêndida a Jean Bauby, sobretudo nos momentos agonizante em que sua personagem se encontra imobilizado seja numa cama de hospital ou numa cadeira de rodas. E pelo fato do filme ser deveras introspectivo o desempenho do ator e cineasta torna-se imprescindível e certeiro para o resultado final da obra.
Portanto, mesmo que com um viés dramático demais e vibrante de menos (por isso comecei a crítica de forma agitada), o filme de Julian Schnabel deve ser visto e principalmente revisto: é o verdadeiro valor da vida que agradece.

O Escafandro e a Borboleta

Nota AC: 7,5

Título original: (Le Scaphandre et le Papillon)

Lançamento: 2007 (França) (EUA)

Direção: Julian Schnabel

Duração: 112 min

Elenco: Mathieu Amalric , Emmanuelle Seigner , Marie-Josée Croze , Anne Consigny , Patrick Chesnais

Gênero: Drama

Deixe um comentário