Humberto Werneck publica coletânea de crônicas

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Humberto Werneck é um múltiplo. Você deve conhecê-lo como jornalista, afinal, são mais de quarenta anos assinando textos em grandes veículos como Playboy, IstoÉ, Veja, Jornal da Tarde etc. Não te soou familiar o nome? Então, talvez você o conheça como escritor – “O pai dos burros“, “O desatino da rapaziada“, “Pequenos fantasmas“? Nada? Você já deve ter lido algum livro prefaciado e organizado por ele – “Boa companhia: crônicas” ou “Ivan Angelo: coleção melhores crônicas“? Não ajudou? Deixe-me ver. Quem sabe você o conheça como biógrafo – “Tantas Palavras“, a respeito de Chico Buarque, e “O Santo Sujo“, sobre Jayme Ovalle? Ou, ainda, como participante de dois anos consecutivos da Festa Literária Internacional de Paraty, a famosa FLIP?

Se ainda assim você acha que nunca ouviu esse nome, taí uma grande oportunidade de conhecê-lo: Humberto Werneck lança, pela primeira vez, uma coletânea de sessenta e cinco crônicas de sua autoria.

Você, soldado do Artilharia Cultural, está intimado a comparecer ao lançamento paulista de “O espalhador de passarinhos e outras crônicas“:

São Paulo

12/05 – quarta-feira

Das 18h30 às 21h30

Livraria da Vila – Rua Fradique Coutinho, n° 915, Vila Madalena

Tel.: (11) 3814-5811

Preço do exemplar: R$40,00

Páginas: 160

Editora: Dubolsinho

Noticiaremos, caso haja, as datas das outras festas de lançamento.

Para complementar esta postagem, um trecho do release de seu livro:

São raros os cronistas que não encaram sua atividade apenas como um ganha-pão que lhes permite realizar atividades mais “nobres”. Raros também são aqueles que, como Werneck, procuram explorar as possiblidades narrativas e poéticas de um gênero mestiço, desprezado e muitas vezes mal compreendido até mesmo por quem o pratica – ou pensa praticar. Pois não basta ter uma coluna no jornal para ali desovar suas opiniões e rabugices, na certeza de estar se filiando à linhagem de Rubem Braga, Nelson Rodrigues, Manuel Bandeira, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino, que transformaram um gênero vira-lata na mais fina literatura.

O que faz, então, com que textos escritos no calor da hora, para publicação no dia seguinte, tenham ficado por décadas na memória do leitor e na história da cultura brasileira? A resposta está, por exemplo, na crônica que dá título ao volume, “O espalhador de passarinhos”. Trata-se de um desses casos primorosos em que a sensibilidade do cronista lança o leitor onde quer – digamos, no meio do mato aonde Hugo, o pai de Humberto, ia em busca de passarinhos para fazer seu trabalho pioneiro e solitário de preservação da natureza nos anos 50. Ele não diz “curió”, mas “curiol”, observa o cronista-menino, todo ouvidos para o sotaque do pai, por sua vez todo ouvidos aos múltiplos sotaques das aves que vai espalhando pelo sertão de Minas.

Até agora espalhadas (como os passarinhos do título?) ao longo de vinte anos em revistas e jornais, as crônicas de Werneck se encontram pela primeira vez no mesmo viveiro literário: esta edição, ilustrada pelo poeta, editor e artista gráfico Sebastião Nunes, da Dubolsinho, de Sabará (MG). A editora, conhecida por lançar autores de vanguarda como André Sant’Anna e o próprio Sebastião, é pioneira mais uma vez ao revelar – pelo menos em livro – o cronista de mão-cheia que é Humberto Werneck, que em alguns casos traz textos de quase vinte anos atrás, mas parece que foram escritos hoje de manhã.

Ex libris, a etiqueta do livro

Artilheiro Colaborador: Mi Müller

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Ex libris é uma expressão latina que significa literalmente “dos livros”, empregada para determinar a propriedade de um livro. A forma mais comum de ex libris é uma etiqueta com uma ilustração, brasão, ou logotipo e a expressão “ex libris” seguida do nome do proprietário, afixada na folha de rosto ou contracapa do livro.

A origem do ex libris é um pouco controversa: existem duas correntes. Uma diz que o primeiro a usar o ex libris foi Hildebrand Brandenburg de Biberach, com uma gravura em madeira representando um anjo a segurar um brasão de armas, por volta de 1480. Já a outra, afirma ser o mais antigo o do rei da Boemia, Georgis de Podebrady, falecido em 1471. No Brasil, no entanto, provavelmente o primeiro ex Libris pertenceu a Manuel de Abreu Guimaraens, que vivia na cidade de Sabará no século XVIII.

Os ex libris podem ser: etiquetas sem desenhos, apenas com o nome do proprietário e algum ornamento; armoriados ou heráldicos, quando o motivo principal do desenho consiste em brasões ou insígnias de indivíduos, cidades, associações etc.; simbólicos, quando trazem imagens que traduzem idéias, lemas de vida, ocupações etc.; paisagísticos, quando reproduzem cenas rurais, urbanas, marinhas etc. ligadas afetivamente ao possuidor dos livros ou, ainda, mistos, que podem ser enquadrados em mais de uma das categorias anteriores.

Existem registros que mostram um hábito curioso das bibliotecas monásticas do século XIV, em relação aos  seus Ex libris:

“Até o século XIV, usavam-se armários fechados com portas, e as obras costumavam ter ex-libris com inscrições em que se ameaçava com a pena de excomunhão, não só aos que furtavam ou encobriam o furto, como àqueles que raspavam ou faziam desaparecer o ex-libris da obra roubada. Quanto mais preciosa a obra, mais rigorosa a punição. Um livro do século XII, da abadia parisiense de Santa Genoveva, trazia por baixo do título a seguinte etiqueta: ‘Este livro é de Santa Genoveva. Quem quer que o furte, ou acoite, ou esta marca apague, excomungado seja!’. Em certo código do mosteiro de Marbaque, Alsácia, a fórmula de excomunhão enchia meia página. O ladrão era votado, sucessivamente, a todos os tormentos do inferno, condenado a mergulhar em lagos ardentes de alcatrão e enxofre e a ter a sorte de Judas, o traidor, para dar mais peso à punição fulminada.”

Confira alguns ex libris de famosos e perceba que eles falam muito da personalidade de seu proprietário:

Freud

Walt Disney

Chaplin

JK

Einstein

H. G. Wells

Lima Barreto

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Mais sobre ex libris:

BEZERRA, José Augusto. Ex Libris: a marca de propriedade do livro.

BODMER, Paulo. O Ex Libris é o retrato do seu dono.

MINDLIN, José. No mundo dos livros. Rio de Janeiro: Agir, 2009.

MORAIS, Rubem Borba de. O bibliófilo aprendiz. Rio de Janeiro: Casa da Palavras, 2005.

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Sobre o Artilheiro Colaborador

Michelle Müller Rossi aka Mi Müller, leitora descontrolada desde sempre, professora, estudante que tenta entender como a leitura influência a alfabetização, eventualmente fotógrafa, blogueira displicente que escreve sobra a paixão pela literatura em todas as suas formas, acha que a grife Machado de Assis tem mais valor que a Nike.

Pode ser encontrada aqui: Bibliophile, Facebook, Orkut, Twitter, Skoob e, ufa, Flickr.

Para além das revoluções


Todo período histórico tem angústias que parecem eternas quando as questões padecem de uma resposta convincente. Tal sentimento incessante açoita principalmente o coração dos jovens cidadãos que anseiam por um futuro melhor. O jovem é, então, o principal ativista para um futuro digno, já que o encontrado por eles é sempre o mais degradável possível.

Autores como Henry Thoreau, Jack Kerouac, músicos como Kurt Cobain, John Lennon, personagens como Che Guevara, Zumbi dos Palmares representam, em épocas e atuações diferentes, a atitude frente ao absoluto desconforto quanto ao futuro.

Zumbi, líder negro de todas as raças

Zumbi dos Palmares, um dos personagens negros mais conhecidos da história escravagista do Brasil sofreu diversas tentativas de aculturação por parte de seus senhores, sem jamais deixar os princípios de liberdade para seu povo de lado. Zumbi ou Francisco viveu num século XVI onde o negro era tratado como peça da máquina do progresso. Quando o escravo teve uma única oportunidade, liderou os negros do Quilombo dos Palmares contra o antigo líder do quilombo, Ganga Zumba, além da opressão imposta pela Coroa Portuguesa. Mais tarde, traído, o personagem de Zumbi simboliza a resistência e luta pelos ideais, mesmo que estes sejam contrários à maré.

Henry Thoreau e a desobediência civil

O mais antigo dos autores citados acima foi um ensaísta revolucionário e transcendental que viveu entre 1817 e 62 e viu um mundo sujo, confuso e explorador. Escravismo e grandes colônias. O homem ainda escravizava o próprio homem e isso nunca deixou o escritor estadunidense em paz consigo. Deu vida ao pensamento libertador em seu ensaio “Desobediência Civil” além de ser um dos precursores do pensamento “carpe diem” e do Naturalismo no Ocidente. Henry David Thoreau foi uma importante fonte onde bebem músicos, atores e outros escritores até os dias de hoje.

Indicamos: “Walden” (Thoreau).

O “Beat” por Jack Kerouac


Foi o precursor do movimento beat nos anos 50-60. O poeta e romancista era um jovem universitário em plenos anos 50. Um ar tenebroso pairava sobre as Américas. A Guerra Fria começava no mundo despertando um preto e branco de sinistro, o medo era de que o mundo explodisse com um simples aperto de botão. Kerouac, então, juntamente com William Burroughs, trouxe uma palheta de cores infinitas para postar sobre o monocromático. A geração beat seria conhecida mais tarde como movimento hippie e reconhecida como o mais forte movimento cultural da década.

Indicamos: Na estrada”(Kerouac) e “Almoço Nu” (Burroughs).

Cobain e a década de 1990

Foi o mais completo sinônimo do jovem americano dos anos 1990. A derradeira década do século XX foi tomada por um total conflito entre o passado e o moderno. Dessa insatisfação nasceria uma camada de revolucionários sem uma revolução.

A fala de Tyler Duden, personagem de “Clube da Luta”, de Chuck Palahniuk, é ideal para contextualizar os anos 1990:

“Cara, eu vejo no Clube da Luta os homens mais fortes e inteligentes que já viveram. Vejo todo esse potencial, e vejo ele desperdiçado. Que droga, uma geração inteira enchendo tanques de gasolina, servindo mesas, ou escravos do colarinho branco. Os anúncios nos fazem comprar carros e roupas, trabalhar em empregos que odiamos para comprar as porcarias que não precisamos. Somos uma geração sem peso na história, cara. Sem propósito ou lugar. Nós não temos uma Grande Guerra. Nem uma Grande Depressão. Nossa Grande Guerra é a guerra espiritual… nossa Grande Depressão é nossas vidas. Todos nós fomos criados vendo televisão para acreditar que um dia seríamos milionários, e deuses do cinema, e estrelas do rock. Mas nós não somos. Aos poucos vamos tomando consciência disso. E estamos muito, muito revoltados.”

Kurt Cobain foi o vocalista do Nirvana, uma banda de grunge que tinha um espírito de discórdia plena aos conceitos do mundo moderno. Seu tédio,  descaso, e  receio são retratados na então lendária faixa um de Nivermind, “Smells like a teen spirit”.

As letras do roqueiro perturbavam os adultos e tornaram-se hinos para os jovens do século sem nenhum peso na história.

Smells Like a Teen Spirit

Carregue suas armas e traga seus amigos
É divertido perder e fingir
Ela está entediada e auto-confiante
Oh não, eu sei um palavrão

Olá, olá, olá, que baixo

Com as luzes apagadas é menos perigoso
Aqui estamos nos agora, nos divirta
Me sinto estúpido e contagioso
Aqui, estamos nós agora, nos divirta
Um mulato, um albino, um mosquito
Meu libido
Yeah!

Sou o pior no melhor que faço
E por esta dádiva me sinto abençoado
Nosso pequeno grupo sempre existiu
E sempre existirá até o fim

E eu esqueci por que eu provei
Oh sim, acho que me faz sorrir
Eu achei difícil, é difícil de achar
Bem, que seja não se preocupe (nevermind).

Indicamos: “Nevermind” (Nirvana), “Fight’s Club” (David Fincher) e “Fight’s Club” (Chuck Palahniuk)

Che, o símbolo da revolução


Ernesto Guevara de la Serna nasceu em Rosário, Argentina, um ano antes da grande crise econômica do capital de 1929. El Che, como ficou conhecido, encontrou em sua juventude um mundo dividido por duas idéias.

Em uma viagem no lugar de sua formatura na faculdade de Medicina, ele encontraria na Guatemala motivos suficientes para se intitular revolucionário.  O movimento revolucionário de 26 de julho e tantos outros feitos ao lado de Fidel Castro mudaram completamente o rumo de sua vida. De estudante de medicina até guerrilheiro.

“Deixe dizer-lhe, com o risco de parecer ridículo, que o revolucionário verdadeiro está guiado por grandes sentimentos de amor. É impossível pensar num revolucionário autêntico sem esta qualidade. Quiçá seja um dos grandes dramas do dirigente […]. Todos os dias temos que lutar para que esse amor à humanidade vivente se transforme em fatos concretos, em atos que sirvam de exemplo, de mobilização”

O revolúcionário não representa apenas uma escolha entre as duas bandeiras então postas: a azul do capital e vermelha do comunismo. Gostem ou não, Che é o mais perfeito símbolo da luta contra o monopólio do saber e do poder. O sentimento de angústia e intranqüilidade numa época de miséria e desigualdade lhe faria dar a vida em prol da causa que julgava a maior de todas.

Indicamos: Diários de Motocicleta (Walter Salles).

As semelhanças entre os personagens acima são os principais motores para a mudança da sociedade. O intuito de reunir alguns do principais nomes das épocas que considero cruciais para a formação da realidade como conhecemos nasceu para indicar – principalmente – as obras de arte que eles produziram, ou que foi produzido à partir deles.

A revolução não é, nem deve existir apenas dentro de um partido político esquerdista, ou um modo de vida caótico e apocalíptico em que se renega todo o mundo como é. A revolução deve ser mantida dentro dos corações e praticada nos momentos certos, oportunos. Para que então libertemos-nos de nossas angústias através da luta – de ideias, palavras e noções.

Dispensados, soldados.

A Liga

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Foi ao ar hoje o primeiro programa “A Liga“, a nova produção da Bandeirantes. O formato do programa é inovador aqui no Brasil: quatro repórteres abordando um mesmo tema, quatro ópticas acerca de um mesmo assunto (mais ou menos o que a gente faz aqui com o Bombardeio).

Embora o elenco oficial pareça ser formado por Rafinha Bastos, Thaíde, Débora Vilalba e Rosanne Mulholland, esta não gravou a estréia, sendo substituída por Tainá Muller. O programa é extremamente dinâmico e tem um propósito social. Este capítulo, por exemplo, abordou moradores de rua. Os quatro repórteres se dividiram e acompanharam alguns casos de desabrigados. A inocente e ingênua Tainá passou o dia com um casal e seus filhos. Débora, com um grupo de crianças e adolescentes. Thaíde, um casal homossexual e, Rafinha, fantasiou-se de mendigo para viver na pele as dificuldades.

As apostas da Band em  “A Liga” são altas: logo de estréia já tem uma hora de duração e a resposta do público pareceu ser positiva, com aproximadamente 7 pontos de ibope. Diferente do “É tudo improviso“, este programa não está tapando nenhuma lacuna e parece que veio para ficar. O que eu acho muito bom, afinal, quanto mais denúncia social sendo veiculada, melhor. Ouvi um infeliz dizendo que não ia assistir ao programa porque era coisa socialista – mentalidade lamentável que eu não me assustaria se visse em meu avô, mas que em um sujeito de dezessete anos me assustou muito. A mensagem do programa é clara: ninguém se vestiu de mendigo pra xingar burguês, pra promover a revolução russa. O que fizeram foi dar um tapinha na cara de quem acha que o mundo se resume ao shopping center e às baladas. Um tapinha amigável. Ninguém está lutando contra o capitalismo, caros reacionários. Até porque, me parece, isso seria extremamente utópico. Estão é pedindo freio, pedindo calma, solidariedade. Estão mostrando isso para atiçar as cabeças do povo, para que pensemos o que pode ser feito para amenizar esses efeitos colaterais do sistema.

No entanto, o crescente compromisso que os programas de TV estão tendo com o social eu vou abordar no meu próximo Palavreado, com mais calma. Enquanto isso, fica a sugestão de acompanhar “A Liga”, toda terça, às 22h10.

Lutar com palavras X – Irregularidades gramaticais

Artilheiro Colaborador: Gustavo de Castro

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Irregularidades gramaticais (por Gustavo de Castro)

Que eu vá

Que eu haja

Que eu seja

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Que depois de cada pedra

Com pés maiores eu esteja

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Que eu saiba

Que eu queira

Que eu dê

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Que sob a dura concha

Exista mais do que se vê

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Entre as regras da gramática

Esses são a exceção:

De desejos imperfeitos

É que nasce a perfeição

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Sobre o Artilheiro Colaborador

Gustavo de Castro é um mineiro de 18 anos que já viveu nos mais diversos cantos do apís. Apaixonado por música, cinema e literatura, atualmente reside na cidade de São Carlos, onde cursa Engenharia da Produção na UFSCAR e escreve romances, crônicas e poesias nas horas vagas. Você pode encontrá-lo no orkut.