Todo período histórico tem angústias que parecem eternas quando as questões padecem de uma resposta convincente. Tal sentimento incessante açoita principalmente o coração dos jovens cidadãos que anseiam por um futuro melhor. O jovem é, então, o principal ativista para um futuro digno, já que o encontrado por eles é sempre o mais degradável possível.
Autores como Henry Thoreau, Jack Kerouac, músicos como Kurt Cobain, John Lennon, personagens como Che Guevara, Zumbi dos Palmares representam, em épocas e atuações diferentes, a atitude frente ao absoluto desconforto quanto ao futuro.
Zumbi, líder negro de todas as raças
Zumbi dos Palmares, um dos personagens negros mais conhecidos da história escravagista do Brasil sofreu diversas tentativas de aculturação por parte de seus senhores, sem jamais deixar os princípios de liberdade para seu povo de lado. Zumbi ou Francisco viveu num século XVI onde o negro era tratado como peça da máquina do progresso. Quando o escravo teve uma única oportunidade, liderou os negros do Quilombo dos Palmares contra o antigo líder do quilombo, Ganga Zumba, além da opressão imposta pela Coroa Portuguesa. Mais tarde, traído, o personagem de Zumbi simboliza a resistência e luta pelos ideais, mesmo que estes sejam contrários à maré.
Henry Thoreau e a desobediência civil
O mais antigo dos autores citados acima foi um ensaísta revolucionário e transcendental que viveu entre 1817 e 62 e viu um mundo sujo, confuso e explorador. Escravismo e grandes colônias. O homem ainda escravizava o próprio homem e isso nunca deixou o escritor estadunidense em paz consigo. Deu vida ao pensamento libertador em seu ensaio “Desobediência Civil” além de ser um dos precursores do pensamento “carpe diem” e do Naturalismo no Ocidente. Henry David Thoreau foi uma importante fonte onde bebem músicos, atores e outros escritores até os dias de hoje.
Indicamos: “Walden” (Thoreau).
O “Beat” por Jack Kerouac
Foi o precursor do movimento beat nos anos 50-60. O poeta e romancista era um jovem universitário em plenos anos 50. Um ar tenebroso pairava sobre as Américas. A Guerra Fria começava no mundo despertando um preto e branco de sinistro, o medo era de que o mundo explodisse com um simples aperto de botão. Kerouac, então, juntamente com William Burroughs, trouxe uma palheta de cores infinitas para postar sobre o monocromático. A geração beat seria conhecida mais tarde como movimento hippie e reconhecida como o mais forte movimento cultural da década.
Indicamos: “Na estrada”(Kerouac) e “Almoço Nu” (Burroughs).
Cobain e a década de 1990
Foi o mais completo sinônimo do jovem americano dos anos 1990. A derradeira década do século XX foi tomada por um total conflito entre o passado e o moderno. Dessa insatisfação nasceria uma camada de revolucionários sem uma revolução.
A fala de Tyler Duden, personagem de “Clube da Luta”, de Chuck Palahniuk, é ideal para contextualizar os anos 1990:
“Cara, eu vejo no Clube da Luta os homens mais fortes e inteligentes que já viveram. Vejo todo esse potencial, e vejo ele desperdiçado. Que droga, uma geração inteira enchendo tanques de gasolina, servindo mesas, ou escravos do colarinho branco. Os anúncios nos fazem comprar carros e roupas, trabalhar em empregos que odiamos para comprar as porcarias que não precisamos. Somos uma geração sem peso na história, cara. Sem propósito ou lugar. Nós não temos uma Grande Guerra. Nem uma Grande Depressão. Nossa Grande Guerra é a guerra espiritual… nossa Grande Depressão é nossas vidas. Todos nós fomos criados vendo televisão para acreditar que um dia seríamos milionários, e deuses do cinema, e estrelas do rock. Mas nós não somos. Aos poucos vamos tomando consciência disso. E estamos muito, muito revoltados.”
Kurt Cobain foi o vocalista do Nirvana, uma banda de grunge que tinha um espírito de discórdia plena aos conceitos do mundo moderno. Seu tédio, descaso, e receio são retratados na então lendária faixa um de Nivermind, “Smells like a teen spirit”.
As letras do roqueiro perturbavam os adultos e tornaram-se hinos para os jovens do século sem nenhum peso na história.
Smells Like a Teen Spirit
Carregue suas armas e traga seus amigos
É divertido perder e fingir
Ela está entediada e auto-confiante
Oh não, eu sei um palavrão
Olá, olá, olá, que baixo
Com as luzes apagadas é menos perigoso
Aqui estamos nos agora, nos divirta
Me sinto estúpido e contagioso
Aqui, estamos nós agora, nos divirta
Um mulato, um albino, um mosquito
Meu libido
Yeah!
Sou o pior no melhor que faço
E por esta dádiva me sinto abençoado
Nosso pequeno grupo sempre existiu
E sempre existirá até o fim
E eu esqueci por que eu provei
Oh sim, acho que me faz sorrir
Eu achei difícil, é difícil de achar
Bem, que seja não se preocupe (nevermind).
Indicamos: “Nevermind” (Nirvana), “Fight’s Club” (David Fincher) e “Fight’s Club” (Chuck Palahniuk)
Che, o símbolo da revolução
Ernesto Guevara de la Serna nasceu em Rosário, Argentina, um ano antes da grande crise econômica do capital de 1929. El Che, como ficou conhecido, encontrou em sua juventude um mundo dividido por duas idéias.
Em uma viagem no lugar de sua formatura na faculdade de Medicina, ele encontraria na Guatemala motivos suficientes para se intitular revolucionário. O movimento revolucionário de 26 de julho e tantos outros feitos ao lado de Fidel Castro mudaram completamente o rumo de sua vida. De estudante de medicina até guerrilheiro.
“Deixe dizer-lhe, com o risco de parecer ridículo, que o revolucionário verdadeiro está guiado por grandes sentimentos de amor. É impossível pensar num revolucionário autêntico sem esta qualidade. Quiçá seja um dos grandes dramas do dirigente […]. Todos os dias temos que lutar para que esse amor à humanidade vivente se transforme em fatos concretos, em atos que sirvam de exemplo, de mobilização”
O revolúcionário não representa apenas uma escolha entre as duas bandeiras então postas: a azul do capital e vermelha do comunismo. Gostem ou não, Che é o mais perfeito símbolo da luta contra o monopólio do saber e do poder. O sentimento de angústia e intranqüilidade numa época de miséria e desigualdade lhe faria dar a vida em prol da causa que julgava a maior de todas.
Indicamos: Diários de Motocicleta (Walter Salles).
As semelhanças entre os personagens acima são os principais motores para a mudança da sociedade. O intuito de reunir alguns do principais nomes das épocas que considero cruciais para a formação da realidade como conhecemos nasceu para indicar – principalmente – as obras de arte que eles produziram, ou que foi produzido à partir deles.
A revolução não é, nem deve existir apenas dentro de um partido político esquerdista, ou um modo de vida caótico e apocalíptico em que se renega todo o mundo como é. A revolução deve ser mantida dentro dos corações e praticada nos momentos certos, oportunos. Para que então libertemos-nos de nossas angústias através da luta – de ideias, palavras e noções.
Dispensados, soldados.
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